Sem choro nem vela. A despedida do Balaio Café foi em clima de festa, com direito a marchinha de Carnaval. Não faltaram isopores, música e muita animação no último dia de atividade do local, que funcionava há dez anos na 201 Norte. Conhecido como um dos lugares mais alternativos da cidade, o bar fechou as portas após recorrentes multas pela Lei do Silêncio. Segundo a proprietária do local Jul Pagul, as punições resultaram em uma dívida que ultrapassa a casa dos R$ 30 mil, o que inviabilizou a continuidade do negócio.
Agora, o que resta aos frequentadores do Balaio é a expectativa de, quem sabe, um dia ele voltar. “A gente estava aqui comentando que ele podia ir para outro lugar, sabe? Se aqui não deu certo, quem sabe em outro espaço”, disse a estudante Fernanda Curci, de 19 anos, com as amigas Lara Costa, 18, e Anna Alice Almeida, 19. Para as jovens, apesar do fechamento, ontem foi de longe o melhor dia no espaço. “Está maravilhoso. É uma perda mesmo um lugar assim, tão diverso, fechar as portas”, afirmaram.
Ponto de encontro
Vários artistas da cidade estiveram no fechamento oficial do Balaio Café, espaço que ficou conhecido como um formador de músicos e plateia. Além disso, a proprietária Jul Pagul sempre apoiou as causas LGBT e outros movimentos sociais. “Para mim, é uma perda pessoal porque estão fechando as portas de um espaço que remete a muitas questões ligadas à negritude. Quando um lugar assim é impedido de continuar, entendo que contribuem com todas as agressões que nós, negros, sofremos”, avaliou o jovem Jonathan Dutra, de 21 anos.
Por todos os lados da festa, o motivo do fechamento era o principal tema de debate entre as rodas. Algumas pessoas estavam revoltadas. Outras, questionavam a legalidade de todas as multas. “Infelizmente, estamos perdendo um dos lugares mais bonitos de Brasília em termos democráticos. Os brasilienses, em geral, já não têm muita opção de lugares para ir. Agora, sem o Balaio, vai ficar muito pior. É triste e revoltante”, salientou o servidor público Bruno Macedo, 33 anos.
A despedida começou por volta das 13h. Quem chegou no início garantiu que a ideia era ir até tarde, para fazer valer os dez anos do espaço. “A gente veio para almoçar. Mas vamos ficar até acabar”, disse o estudante Marcos Costa, 26 anos.
Valorização da cultura
As amigas Marina Mol e Natasha Nascimento, ambas de 25 anos, comentaram que o Balaio, além de democrático, era um espaço de valorização da cultura brasileira. “Cada dia era dedicado a um tipo de público. É realmente uma perda para todos”, afirmaram.
As jovens ressaltaram ainda a importante participação do Balaio no Carnaval da capital. “Todo mundo se encontrava aqui. O feriado em Brasília, na verdade, tinha a cara do Balaio. Como vai ser agora?”, questionaram.
No Carnaval deste ano, sem o investimento do Governo do Distrito Federal (GDF), vale lembrar que a opção dos brasilienses foram os blocos de rua. O Balaio Café era um dos locais de encontro entre os grupos. Justamente por isso foi denunciado algumas vezes durante o período, com a justificativa de ultrapassar os limites de som permitidos pela Lei do Silêncio.
Episódio polêmico
Em fevereiro, durante o Bloco das Perseguidas, uma festa no local acabou em confusão, spray de pimenta e detenção. Na época, quem estava no Balaio garantiu que a música já havia sido desligada e o bar fechado quando a polícia chegou. Para contornar o episódio, foi necessária uma reunião entre a proprietária do bar e os secretários de Estado Jaime Recena e Arthur Trindade.
Ao longo de todo o ano, o Balaio Café foi multado várias vezes por conta do barulho. Os limites de emissão de ruídos são regidos pela Lei Distrital 4.092, de 2008, a chamada Lei do Silêncio. A reclamação vem, principalmente, de moradores da quadra.
Saiba mais
A Lei do Silêncio estabelece que o barulho em área residencial próxima a comércios não pode ser superior a 55 decibéis durante o dia e a 50 decibéis durante a noite.
Desde que foi criada, em 2008, outros estabelecimentos de Brasília fecharam as portas ou pararam de tocar música.
A proprietária do Balaio acredita que a fiscalização persegue o local.
Fonte: Da redação do Jornal de Brasília
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