CURITIBA (Reuters) - Há mais projetos ligados aos Jogos Olímpicos Rio 2016 sob investigação por suspeita de corrupção do que foi revelado até o momento, disse à Reuters um procurador federal da força-tarefa da operação Lava Jato, citando depoimentos de executivos de empreiteiras e acordos de leniência ainda em andamento.
O procurador Carlos Fernando dos Santos Lima afirmou que a suspeita de corrupção nas obras da Olimpíada do Rio não se limita à revitalização da região portuária, que deve ser um dos principais legados dos Jogos.
"Tem mais", disse Lima em entrevista em seu escritório em Curitiba na segunda-feira. "Existem colaborações e leniências em andamento que mencionam isso, mas enquanto não estiverem fechados os acordos você não tem o número certo."
A polícia já descobriu documentos de executivos da empreiteira Odebrecht que mencionam 1 milhão de reais em supostas propinas para o projeto do Porto Maravilha, e outros supostos pagamentos de suborno teriam relação com a linha 4 de metrô da cidade que está em construção para os Jogos.
Lima, um dos principais promotores da força-tarefa que descobriu o esquema de cartel de empreiteiras para obter contratos da Petrobras por meio de pagamento de propinas, afirmou que todas as investigações ligadas à Olimpíada estão sendo conduzidas em Brasília pela Procuradoria-Geral da República (PGR).
Isso se deve ao fato de envolverem possíveis propinas a políticos que teriam foro privilegiado junto ao Supremo Tribunal Federal (STF) e fora da alçada do juiz federal do Paraná Sérgio Moro, o que provavelmente irá tornar a investigação mais lenta.
“A gente tem colaborado, trabalhamos juntos, mas uma coisa é o ritmo da 13ª Vara, outro é o Supremo”, disse Lima.
Procurada, a PGR não quis se pronunciar sobre o assunto.
OBRAS QUASE PRONTAS
As alegações de corrupção não devem afetar as obras para os Jogos de agosto, que estão quase finalizadas, mas ofuscam ainda mais um evento que deve começar em meio à pior crise econômica e política do país em décadas, num momento em que a presidente Dilma Rousseff enfrenta um processo de impeachment em tramitação no Congresso e pode ser afastada do cargo antes do início dos Jogos em 5 de agosto.
Como parte das investigações da Lava Jato, os procuradores e a polícia apuram novas alegações de corrupção que dizem respeito a estádios construídos para a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos.
Somente cinco empreiteiras estão construindo a maior parte das obras de infraestrutura e arenas de competição que fazem parte do orçamento global de 39 bilhões de reais dos Jogos, e todas são alvo das investigações de fraude na Petrobras.
A Odebrecht, que está no cerne do escândalo da Lava Jato, está envolvida em mais da metade dos projetos olímpicos no que diz respeito aos valores, de acordo com contratos vistos pela Reuters.
Em 22 de março, mesmo dia no qual promotores acusaram publicamente a Odebrecht de corrupção ligada a estádios do Mundial de futebol e ao Porto Maravilha, a empresa afirmou que iria colaborar com o inquérito e buscar um acordo de leniência e delações premiadas para seus executivos.
As quatro outras empreiteiras responsáveis por grande parte das obras de instalações olímpicas são OAS, Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão e Carioca Christiani Nielsen Engenharia.
Odebrecht, Andrade Gutierrez e Queiroz Galvão não quiseram comentar, e as outras não responderam aos pedidos de comentário.
Lima não especificou qual empresa ou empresas mencionaram projetos dos Jogos em seus depoimentos.
Fora do âmbito da Lava Jato, uma obra do complexo esportivo olímpico de Deodoro teve repasse de recursos suspenso pela Justiça por suspeita de irregularidades em um contrato. [nL2N17125P]
A Prefeitura do Rio de Janeiro está supervisionando o grosso das obras olímpicas, embora algumas estejam sendo financiadas pelos governos estadual e federal, enquanto o comitê organizador Rio 2016 está a cargo de estruturas temporárias, como arquibancadas.
A prefeitura afirmou que os contratos foram financiados sobretudo com recursos privados e que todas as licitações foram supervisionadas por órgãos reguladores. Procurado, o Rio 2016 recomendou que a Reuters entrasse em contato com a prefeitura.
O Comitê Olímpico Internacional (COI) não respondeu a pedidos de comentário.
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