Golpe do aluguel ainda faz vítimas

Quem procura um imóvel para alugar precisa tomar  cuidado com ofertas inacreditáveis e facilidades em excesso, pois essas são características do “golpe do aluguel”. Um estelionatário está solto no Distrito Federal e tem feito várias vítimas. O crime foi relatado pelo JBr. no ano passado, mas até hoje surgem novas ocorrências.  

O suspeito, se passando por um interessado, vai diretamente às imobiliárias e pede para ver alguns imóveis. A imobiliária entrega as chaves para ele, que vai até os locais e tira fotos de todos os cômodos. Depois disso, ele tira cópias das chaves dos imóveis visitados e  posta anúncios na internet. As pessoas interessadas entram em contato com o suspeito, que se faz passar por proprietário dos imóveis. 

O suposto estelionatário cobra valores bem abaixo do mercado, sem necessidade de fiador para fechar o falso contrato. O vendedor Jaderson Grangeiro, 27 anos, caiu no golpe do aluguel na semana passada. Ele viu o anúncio com as fotos de uma casa no Guará I em um site de classificados, gostou, entrou  em contato com o suposto proprietário e visitou a residência. Depois disso, fechou negócio com o suspeito, que se apresentou como Ricardo. 

Golpe

“Não desconfiei de nada porque fomos ao cartório do Guará reconhecer firma no contrato de aluguel, que estabelecia que eu pagasse o valor de R$ 1 mil e mais um como caução no mesmo valor. Paguei direitinho, e ele me entregou as chaves. Mas, quando cheguei lá com a minha mudança, vi a placa da imobiliária e a casa trancada. Então, encontrei outras pessoas que também alegaram que tinham alugado o mesmo imóvel e, só então, nos demos conta de que tudo aquilo não passava de um golpe”, relatou. 

Grangeiro descobriu o golpe na última quinta-feira, mas não quis registrar boletim de ocorrência por achar que o caso é só mais um. “Comecei a pesquisar na internet sobre o assunto e descobri que o mesmo homem que me enganou já fez vítimas em vários estados e tem várias passagens pela polícia. Além disso, não vou receber os R$ 2 mil que paguei de volta, então, prefiro não perder tempo”, afirmou.

Valores sempre abaixo do mercado

Em abril do ano passado, no Guará, policiais civis da Delegacia de Repressão a Furtos (DRF) prenderam uma mulher acusada de participar de um grupo que praticava o golpe do aluguel. Os golpistas anunciavam imóveis pela internet e fechavam contratos falsos mediante entrega de cópia das chaves. Vanessa Dantas Santana, 20 anos, foi detida ao se passar por uma corretora de imóveis em uma casa na QI 18, no Guará I. A polícia informou que outras mulheres podem ter sido aliciadas por um rapaz, que teria feito os primeiros contatos com as imobiliárias. Vanessa  portava identidade falsa e se apresentava aos clientes com ofertas de aluguel abaixo do valor de mercado. Os futuros “inquilinos” eram atraídos por anúncios em jornal impresso. Para copiar as chaves, Vanessa  procurava a imobiliária e se passava por uma pessoa interessada.

Boas condições são um dos atrativos

Quem também caiu no golpe foi a cabeleireira Marlene Rodrigues, 40 anos. Um casal de amigos viu um anúncio na QI 12 do Guará I por um preço razoável e passou o contato para ela. “A propaganda me chamou a atenção, pois o preço estava muito bom. Então, liguei, um tal de Antônio atendeu, disse que era o dono da casa e que eu podia negociar tudo com o Ricardo”, contou.

Marlene visitou o imóvel e caiu na lábia do estelionatário. Ela assinou o contrato e fez o pagamento de R$ 1 mil, combinando de pagar a caução, no mesmo valor, após o contrato com firma reconhecida. O criminoso entregou as chaves e ficou de levar o contrato, mas sumiu. Ela só descobriu o golpe porque decidiu visitar o imóvel com o filho e encontrou outra vítima com a mudança na frente da residência. “Fiz um boletim de ocorrência, mas os policiais me adiantaram que não podiam fazer muita coisa. Continuo procurando aluguel, mas agora com muito mais cuidado”, diz.

Imobiliária aumenta segurança

Por coincidência, a cabeleireira Marlene Rodrigues alugou a mesma casa que o vendedor Jaderson Grangeiro. O suposto estelionatário, que se apresentou como Ricardo, anunciava o preço do aluguel por R$ 1 mil, mas, na realidade, o valor era de R$ 1,6 mil. A imobiliária responsável pelo imóvel, localizado na QI 12 conjunto M - Guará I, soube da fraude depois de receber uma ligação de um interessado que avisou que viu o anúncio  do mesmo imóvel em um site, mas por um preço abaixo do anunciado pela imobiliária.

Wladimir Diógenes, proprietário da imobiliária, foi até o local, mandou trocar o segredo da fechadura da porta, colocou um cadeado no portão e pediu para que os vizinhos avisassem se o suspeito voltasse. O criminoso, então, voltou e arrombou a residência. “Esse cara chamou o chaveiro, disse que era o dono da casa e que tinha perdido as chaves. Então, o chaveiro arrombou a fechadura e, na hora de pagar, ele explicou ao profissional que não tinha dinheiro em espécie, apenas cartão de débito automático. Ou seja, ele deu golpe até no chaveiro”, concluiu o corretor.

Ocorrência

Diógenes colocou uma nova fechadura e pediu aos vizinhos para chamarem a polícia caso vissem o estelionatário, que sumiu da região desde que as vítimas descobriram o golpe. O dono da imobiliária também registou ocorrência. Para evitar futuros problemas, ele vai implantar sistema de identificação biométrica na entrada, pois, assim, poderá registrar os dados de todos que forem até o local.

Estelionatos diminuem

O principal suspeito de ter dado o golpe do aluguel tem inúmeras passagens pela polícia e enganou pessoas em Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Tocantins, além do DF. A 4ª Delegacia de Polícia (Guará II) investiga o caso. Segundo Rodrigo Larizzatti, delegado-chefe da 4ª DP, esses tipos de golpe não são frequentes, mas, de vez em quando, ocorrem. “Tivemos um caso semelhante em janeiro. No final do ano passado, prendemos um rapaz por aplicar esse golpe, mas ele já está solto. O maior problema nesses casos é a legislação, que não mantém esses criminosos na prisão. Muitas vezes, eles pagam a fiança com o dinheiro oriundo do golpe e ficam livres. Dificilmente, um juiz decreta prisão para estelionatários”, destaca. 

Em janeiro do ano passado, pelo menos quatro pessoas foram enganadas na hora de alugar um imóvel. Elas caíram no golpe do aluguel, que também ocorreu no Guará. Outras quatro vítimas foram enganadas ao alugar casas em Samambaia. Esse caso ocorreu em março de 2014. No mês seguinte, uma mulher foi presa acusada de participar de um grupo que agia de forma semelhante. Os golpistas anunciavam imóveis pela internet e fechavam contratos falsos mediante entrega de cópia das chaves.

O último levantamento da Secretaria de Segurança Pública do DF sobre crimes de estelionato é o acumulado do comparativo de janeiro a outubro, referentes aos anos de  2013 e 2014. Os dados mostram uma redução de 3% na número de estelionatos. De janeiro a outubro de 2013, foram 9.310 casos registrados. No mesmo período de 2014, foram 9.019, 291 casos a menos em relação ao ano passado.

Golpes mais frequentes no DF

Fraude de cartões (clonagem)

Falsificação de documentos

Golpe imobiliário (lotes inexistentes)

Golpe do pecúlio (ligam para idosos e dizem que há um valor liberado para eles, mas, para receber, é preciso fazer um depósito de 10% do valor total)

Golpe do empréstimo (anunciam empréstimos sem consultar Serasa ou SPC e alegam que, para liberar a quantia, é preciso depositar 10% do valor)

Cuidados ao procurar imóveis no DF

O presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis da 8ª Região (Creci-DF), Hermes Alcântara, alerta que o primeiro passo na hora de procurar um imóvel é contratar um corretor de imóveis ou procurar uma imobiliária e verificar o registro junto ao Creci-DF para ter certeza de que se trata de um profissional ou uma empresa com atuação legal.

“Caso o contrato de locação seja firmado diretamente com o proprietário, deve-se certificar de que ele é realmente o proprietário do imóvel e pedir ajuda a um corretor de imóveis para avaliar se as cláusulas do contrato estão corretas e de acordo com a lei. Para evitar cair em golpe, é importante sempre contratar profissionais e empresas credenciados”, ressalta. Segundo Alcântara, em caso de dúvidas, a ouvidoria do conselho está à disposição para esclarecimentos.

Fraudes bancárias

O delegado Joás Rosa de Souza, diretor da Divisão de Falsificações e Defraudações (Difraudes), explica que o golpe do aluguel não é tão frequente no Distrito Federal, mas alerta para fraudes bancárias, que têm ocorrido com frequência nos últimos meses. 

“Recomendamos que as pessoas tenham um extremo cuidado na hora de apresentar documento em algum local. Devem ficar perto o tempo inteiro. Além disso, é bom desconfiar de ligações e mensagens com ofertas muito boas porque nada nessa vida vem fácil. Os idosos também devem ficar atentos, pois há vários golpes em que eles são o alvo. Por isso, é bom evitar ir ao banco sozinho”, alerta.

Fonte: Da redação do Jornal de Brasília