sexta-feira, novembro 21, 2014

Metas lançadas no Programa Integrado de Combate ao Crack, em 2011, não são cumpridas.

A CBN teve acesso, com exclusividade, a um levantamento que mostra que menos de 18% dos objetivos foram alcançados. Governo Federal alega que a maioria dos serviços é de responsabilidade dos estados e municípios. Cento e 18 cidades aderiram ao programa.

Por André Coelho e Bianca Santos 

Três anos depois de a presidente Dilma Rousseff lançar o Programa Integrado de Combate ao Crack, a maior parte das metas estipuladas ainda não foi cumprida. A CBN teve acesso com exclusividade aos números atuais do programa e revela que, de dezessete indicadores, apenas três atingiram o previsto originalmente, segundo dados do Ministério da Casa Civil. Entre os serviços que seriam ampliados, de acordo com o plano, estão leitos disponíveis no país em enfermarias especializadas para o tratamento de dependentes químicos. A estimativa era de que as unidades chegariam a 3 mil e seiscentas em 2014. O número atualmente é bem inferior: são 800 leitos, 22% do objetivo. O Ministério da Casa Civil alega que o cumprimento das metas depende da capacidade executiva e financeira dos governos municipais e estaduais. Enquanto o objetivo não é alcançado, dependentes e familiares travam uma batalha bem mais difícil contra o vício. Bruno Souza é usuário de crack há 19 anos e já teve de esperar seis meses por uma vaga em unidade pública. Ele destaca a importância da internação imediata para o início de um tratamento:

"Depois que eu passo por uma internação, aí que eu posso ser levado a um tratamento ambulatorial. Mas antes de eu ser internado, não me adianta nada o tratamento ambulatorial. Eu não vou parar de usar. Eu preciso de uma internação."




A criação de unidades de acolhimento de usuários de crack é outra meta que não foi alcançada. Estava prevista a construção de 618 centros deste tipo, mas só 60 foram abertos, menos de 10% do objetivo inicial. O governo federal também havia estimado a criação de 175 Centros de Atenção Psicossocial de Álcool e Drogas com funcionamento 24 horas. Cinquenta e nove foram abertos, cerca de 33% do previsto. Seriam formadas ainda trezentas e 8 equipes de consultórios de ruas. Hoje existem 123, o que não chega a 40%. Um levantamento da Fiocruz com mais de sete mil usuários de drogas mostrou que a maior parte dos dependentes químicos quer receber tratamento. O pesquisador Francisco Inácio reforça a importância de se facilitar o acesso ao serviço público:

''Se você começa a formalizar, mas não tem uma pessoa para ajudar o usuário, ele acaba abandonando o tratamento.''

O presidente da Associação Brasileira de Alcoolismo e Drogas, Jorge Jaber, trabalha com dependentes químicos há 20 anos e é procurado com frequência por familiares em busca de ajuda. Ele considera que há um equívoco na forma como o governo conduz o tratamento e a manutenção da saúde mental da população. Para Jaber, falta investimento na área de psicologia e assistência social:


"Há poucos recursos. É assustador o número de pessoas que nos procuram e a gente não pode ajudar.''


O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome informou que, em 2012 e 2013, foram investidos 40 milhões de reais para apoiar o serviço de abordagem social. Para este ano, a previsão de investimento é de 30 milhões. Três serviços programados no Plano atingiram a meta inicial: o número de vagas de residência em saúde que deveria chegar a 150. 169 foram abertas; a quantidade de bases móveis de videomonitoramento, que seriam 70 e foram ampliadas para 130 e o efetivo da Polícia Rodoviária Federal, que nomeou 2 mil policiais, 500 a mais do que o previsto.


SERVIÇO / EQUIPAMENTO
META INICIAL
REALIZAÇÃO
Consultório na rua
308 equipes
123 em funcionamento
Abordagem social na rua
308 trabalhos
194 realizados
CAPS AD III 24 horas (Centro de atenção psicossocial de álcool e drogas)
175 unidades
59 em funcionamento
Enfermaria especializada
3.600 leitos
800 leitos em funcionamento
Unidades de acolhimento
618 unidades
60 unidades em funcionamento
Comunidades terapêuticas
10.000 vagas
7.501 em funcionamento
Vagas de residência em saúde (psiquiatria e multiprofissional)
150 vagas em psiquiatria e 304 multiprofissionais
169 vagas em psiquiatria e 210 multiprofissionais criadas
Capacitações em saúde
oferecer 462.659 vagas
340.227 vagas ofertadas
Bases móveis de videomonitoramento
70 bases móveis
130 bases móveis entregues
Bases móveis (qualificação dos profissionais)
capacitar 8.400 policiais
7.538 capacitados
Grupos de investigações sensíveis (GISE) da Polícia Federal
implantar 30 unidades
26 unidades implantadas
Aumento de efetivo da PF
1.200 novos policiais
1.119 policiais nomeados
Aumento de efetivo da PRF
1.500 novos policiais
2.000 policiais nomeados
Educação à distância
oferecer 483 mil vagas
434 mil vagas ofertadas
Educação presencial
65 Centros Regionais de Referência (CRR)
31 CRR em atividade
Educação presencial de policiais
capacitar 12.240 policiais
5.609 policiais capacitados
Ampliar o Ligue 132
160 operadores
80 operadores


0 comentários:

Postar um comentário